Pancadões tiram sono dos moradores e polícia no Jaguaré
quarta-feira, 13 de março de 2013Botecos de periferia, carros com alta potência sonora e jovens ávidos por diversão. Bum. O funk carioca se instalou nas ruas dos bairros mais carentes de São Paulo para desespero da vizinhança. Trabalhadores que precisam acordar bem cedo para chegar ao serviço não conseguem dormir. Os pancadões se estendem da noite de quinta-feira até domingo, enlouquecendo a vida das comunidades.
O coronel Álvaro Batista Camilo, comandante da Polícia Militar até o primeiro semestre de 2012 e hoje vereador pelo PSD, fez um levantamento dos pancadões na capital: por fim de semana, detectou-se 348 pontos problemáticos em toda a cidade.
Segundo informações da Secretaria das Subprefeituras de São Paulo, o prefeito Fernando Haddad (PT) pretende estender a Operação Delegada para o combate aos pancadões ilegais, utilizando o apoio dos policiais militares em conjunto com a Guarda Civil Metropolitana.
“Os bailes funk a céu aberto começaram em 2006 nas regiões de Santos e cidade de Ribeirão Preto. Era só música alta. Hoje, o perfil dos pancadões é caso de polícia. Vendem-se álcool e droga a menores, há gente armada e a polícia, quando intervém, é recebida a pedradas e garrafadas”, relata Camilo.
Na semana passada, um PM foi salvo pelo colete balístico. Ao tentar atender a ocorrência envolvendo pancadão, uma equipe da polícia foi recebida a tiros na região do bairro de Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, uma das mais problemáticas da cidade.
Camilo está estudando a elaboração de um projeto de lei que dê à polícia maior poder administrativo. “A PM deve poder usar o decibelímetro e assim constatar o problema no local. Desse jeito, será possível aplicar multas altíssimas aos infratores”, explicou.
Para Camilo, uma das ações fundamentais é a ação por antecipação. “No meu comando, nós fazíamos levantamentos e instalávamos viaturas nos locais onde costumeiramente se promoviam esses pancadões. Impedíamos em torno de 80 a 100 bailes nas ruas por fim de semana”, afirma. “Mas a PM não tem condições de pegar todos. Por isso, são importantes as ações administrativas, as multas, os fechamentos de estabelecimentos em desacordo com a lei e a maior presença da Guarda Civil Metropolitana nessas questões”, avalia.
O presidente do Conseg Portal do Morumbi, Celso Cavallini, explicou que o problema da perturbação do sossego na região é generalizado. “Nós temos as grandes mansões, que são alugadas para festas no bairro do Jaguaré de arromba e acabam com os finais de semana dos vizinhos. Também temos três pancadões simultâneos ocorrendo dentro da Favela de Paraisópolis”, explicou.
‘A convivência aqui tornou-se impossível’
Uma moradora da Favela de Paraisópolis, que preferiu não se identificar, explicou que trabalha em hospital, por causa da rotina diferenciada de seu serviço, tem necessidade de dormir bem. “A convivência na comunidade tornou-se impossível”, desabafa. “Os bailes e os forrós se iniciam na quinta-feira e atravessam toda a madrugada até clarear. No sábado e no domingo, o problema se repete, com o agravante de que os carros circulam com som no último volume durante o dia também”, explica.
A moradora ainda avança na reclamação: dois bares – nas ruas Herbert Spencer e Afonso dos Santos – funcionam com música “ensurdecedora”. Ela já acionou, por várias vezes, o telefone de emergência da Polícia Militar (190) e o serviço do 156 da Prefeitura de São Paulo, mas nada foi feito.
No Jardim Felicidade, na Zona Norte de São Paulo, a Associação das Mulheres do Jova Rural quer debater o problema. Ela não é contrária aos bailes, porém os pancadões na Rua Arley Gilberto de Araújo impedem a passagem dos moradores pelo local. No Jaguaré, Zona Oeste de São Paulo, os pancadões infernizam a vida dos moradores das avenidas Bolonha e Miguel Frias e Vasconcelos.
O coronel Álvaro Camilo disse que o grande problema da população prejudicada é a necessidade de se apresentar como vítima. “Se não houver duas testemunhas, não há como dar prosseguimento na ocorrência. E todos da comunidade têm medo porque há a chance real de sofrer represálias”, disse.
Segundo a PM, os pancadões são itinerantes e as denúncias são fundamentais. A estratégia é ocupar os locais antes do baile.
PM recebe 35 mil reclamações por dia
Diariamente, o 190 (telefone do Centro de Operações da Polícia Militar) recebe cerca de 35 mil chamados gerais de barulho, das quais, pelo menos, 3,5 mil (10%) viram ocorrência. Nos finais de semana, as queixas sobem para 50 mil, com picos de 70 mil.
20% das chamadas são de perturbação
Em média, de segunda a sexta-feira, são cerca de 350 ocorrências apenas de perturbação de sossego. Nos fins de semana, o percentual de chamadas para ocorrências desse tipo chega a 1,6 mil, 20% do total gerado no Copom.
Psiu atua com 15 fiscais e engenheiros
O Psiu (Programa de Silêncio Urbano) atua apenas em locais confinados, como bares e boates. O trabalho é norteado por duas legislações. Uma determina a instalação de isolamento acústico, estacionamento e segurança para poder funcionar após a 1h. A outra delimita a quantidade de decibéis emitidos pelos estabelecimentos a qualquer hora do dia ou da noite. O Psiu tem 15 fiscais e engenheiros e não atua no momento da denúncia, mas sim em data posterior agendada.
Fonte: Diário de São Paulo
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