Mirante símbolo do Jaguaré sofre com vandalismo
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011Rio Tietê. Em 1943, apesar do Tietê, no trecho que corta São Paulo, já não propiciar mais a navegação, o engenheiro Henrique Dumont Villares ergueu a torre de 23 metros de altura pensando em transformá-la em um farol. Passados quase 70 anos, o rio, símbolo da degradação ambiental, está longe de ser navegável e o mirante, símbolo do Jaguaré, passa os dias às moscas, isolado por grades de ferro para não ser exposto ao vandalismo.
O monumento, tombado em 2002 pelo Patrimônio Histórico, passou por muitas transformações, é verdade. Hoje, por exemplo, não sinaliza mais a passagem do tempo: a máquina do relógio foi destruída e o sino de cobre, fabricado na Alemanha, roubado.
Quem se dispõe a subir os 93 degraus que levam ao mirante se depara com sujeira, teias de aranha e água de chuva. Mas a “escalada” compensa. Lá no alto, São Paulo pode ser vista em 360 graus. Ao fundo, a raia olímpica da USP.
Só agendando um horário pode-se subir ao mirante hoje em dia. Para descortinar a paisagem é preciso marcar um horário com a Sociedade Amigos do Jaguaré (Saja).
Augusto Gomes, de 77 anos, mais conhecido por Piraju, é vizinho do local e fica com as chaves: é sua responsabilidade manter o jardim que circunda a obra em ordem. À moda de uma praça de cidade pequena, o local é rico em árvores e plantas. Às vezes, uma vizinha pede as chaves para fazer exercícios ao ar livre, conta o homem. “Tem de ficar trancado mesmo, senão destroem tudo”, diz Piraju. O jardineiro afirma que, às vezes, nem mesmo as grades e os cadeados conseguem deter os vândalos. “Pulam as grades, quebram janelas e invadem”, resume.
“Durante muitos anos a Sociedade Imobiliária Jaguaré manteve um funcionário para dar corda no relógio e cuidar do mirante. Nessa época, o local era aberto. Depois foi tombado, mas ficou no abandono. Há mais ou menos dez anos a Saja reformou e pintou o local. Hoje cuida, mas na medida de suas possibilidades. Para fazer obras ali precisa de patrocínio, de empresas que colaborem”, diz Mario Bonassa, de 76 anos, da diretoria da sociedade.
Neste final de semana foi dado início a um trabalho para tornar o mirante novamente iluminado. A intenção do Saja é encontrar empresas que contribuam também com a pintura e a restauração do relógio com o qual gente como Meire Bitelli aprendeu as horas.
A dona de casa mora na casa da Rua Salatiel de Campos desde o dia em que nasceu, há 60 anos. Antes dela, já residiam ali pais e avós. Atualmente, junto com ela, residem filhos e netos. Os avós se mudaram para o Jaguaré em 1946. Sem esconder a nostalgia, Meire lembra-se da época em que o sino dobrava a cada nova hora. Foi assim, diz, que descobriu como quantificar o tempo.
Nome do bairro surgiu por causa de ribeirão que nascia em Osasco
O bairro Jaguaré, na Zona Oeste, tem esse nome em alusão ao ribeirão homônimo que vinha de Osasco e desembocava no Rio Pinheiros. Ele surgiu em 1935, quando a Sociedade Imobiliária do Jaguaré, empresa de Henrique Dumont Villares, adquiriu a área de uma fazenda.
Villares era sobrinho de Santos Dumont. Engenheiro, arquiteto e urbanista, chegou a exercer mandato de vereador em São Paulo. Ele pensou o bairro para abrigar os funcionários da sua empresa: as ruas foram desenhadas de modo que o centro comercial fosse rodeado pelas residências e estas, pelas indústrias. Um total de 42 praças foram projetadas.
No ponto mais alto do Jaguaré, o engenheiro concebeu o mirante que, um dia, acreditava, poderia também vir a ser usado como farol para os navegantes.
Durante muito tempo o local foi aberto à visitação. Trazia à praça interessados em ver São Paulo lá do alto e também vizinhos que levavam as crianças para brincar na Praça Salatiel de Campos.
Em 2002, o mirante do Jaguaré foi tombado. Hoje quem quiser ter acesso à linda vista que ele oferece deve contactar a Saja pelo telefone (11) 3798-5540.
Fonte: Diário de S. Paulo